Sobre o Livro:
Os poemas de Miguel Almeida transportam-nos por anseios e receios, por opções, feitas ou que ficam por fazer, que valem como outras tantas viagens de um Eu, numa busca constante de sentido para si próprio e para o Mundo.
Numa frase célebre, o poeta russo Osip Mandelstam disse que “na poesia é sempre de guerra que se trata”. Num registo diferente, Carl Von Clausewitz diz-nos que “a paz é a continuação da guerra por outros meios”. E esse também se pode dizer que é o ponto de vista assumido em Ser Como Tu. Em guerra incessante consigo próprio, o Eu que está por detrás dos poemas de Miguel Almeida mostra-nos que as piores guerras, as mais constantes e perigosas, não são as que travamos com os outros, mas as que travamos connosco próprios e com as nossas circunstâncias. Mas estas também são as guerras que nos trazem as conquistas mais importantes e decisivas.
Viagem à volta de mim
Numa procura de quem se busca, fiz de mim mesmo uma nau
E embarquei, na viagem.
Desfraldadas aos ventos, ofereci as velas ao Norte e ao Sul
Ao Este e ao Oeste, entreguei ao não sabido o meu eu.
Embarquei, naveguei e deixei-me ir.
Vi cidades onde estive, mas não gostei
Vivi nelas, paredes meias com a dor
Em rostos, que não quis conhecer
E de quem, na verdade
Quis fugir.
Caras tristes, com marcas tristes
Visíveis, como casas sem inquilinos.
Suspensão de mim a meu ser,
Distância (in) finita,
Quis perder-me, para me achar
Quis procurar-me, para me encontrar.
Perdido, vagueei em busca de mim
Mas no fim, nau fundeada
Num cais, com velas ancoradas
Já gastas, procurei viver esta viagem.
In, Ser Como Tu, pág. 90.
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